Geral, Imobiliário, Fiscal BCE volta a descer juros: taxas estão abaixo dos 4% Analistas de mercado esperam novo corte dos juros do BCE para dezembro. E fazem previsões para 2025. 13 set 2024 min de leitura Tal como esperado pelos analistas de mercado, o Banco Central Europeu (BCE) decidiu avançar com um novo corte dos juros diretores na reunião de política monetária realizada desta quinta-feira, dia 12 de setembro. Mas houve uma surpresa: esta nova redução não foi linear às três taxas diretoras. A taxa dos depósitos caiu 25 pontos para 3,50% e a taxa de refinanciamento desceu ainda mais para 3,65% (-60 pontos base). Assim, todas as taxas de juro diretoras ficam abaixo dos 4%. E o que vai acontecer até ao final de 2024? O caminho para a descida dos juros do BCE continua incerto e as decisões continuam dependentes dos dados, sendo tomadas reunião a reunião, tal como voltou a frisar a presidente Christine Lagarde. Os analistas esperam que haja novos cortes das taxas este ano, pelo menos, na reunião de dezembro. Foi em junho, que o BCE avançou com uma redução das três taxas diretoras (em 25 pontos base), a primeira queda desde o ciclo de subidas iniciado em julho de 2022. Mas na reunião de julho, os responsáveis pela política monetária decidiram fazer uma pausa e manter os juros, voltando a sublinhar que o BCE "não se compromete previamente com uma trajetória de taxas específica”. A verdade é que os vários dados económicos que o BCE tem em conta para tomar decisões evoluíram de forma favorável a um novo corte das taxas: tanto a inflação na zona euro de agosto (que desceu para 2,2%), como o indicador de salários negociados para o segundo trimestre mostraram um declínio. Além disso, o PIB na zona euro aumentou 0,2% no segundo trimestre de 2024 em comparação com o trimestre anterior, segundo os dados mais recentes do Eurostat. E o emprego continua resiliente: o número de pessoas empregadas aumentou 0,2% na zona do euro entre este dois momentos. E assim foi: "O Conselho do BCE decidiu reduzir a taxa de juro aplicável à facilidade permanente de depósito – a taxa através da qual define a orientação da política monetária – em 25 pontos base. Tendo em conta a avaliação atualizada realizada pelo Conselho do BCE quanto às perspetivas de inflação, à dinâmica da inflação subjacente e à força da transmissão da política monetária, é agora apropriado dar mais um passo no sentido de moderar o grau de restritividade da política monetária", explicam em comunicado esta quinta-feira publicado. Christine Lagarde, presidente do BCEGetty images A grande novidade é que a descida dos juros do BCE não foi linear, havendo cortes na taxa de depósito em 25 pontos base e cortes mais acentuados nas outras taxas de juro. Assim ficam as três taxas de juro diretoras a partir do próximo dia 18 de setembro: Taxa de juro das principais operações de refinanciamento desceu para 3,65% (menos 60 pontos face aos 4,25%). Antes dos cortes dos juros de junho e setembro, esta taxa estava nos 4,5%, o nível mais elevado desde maio de 2001; Taxa aplicável à facilidade permanente de cedência de liquidez cai para 3,90% (menos 60 pontos face aos 4,50%); Taxa aplicada à facilidade permanente de depósitos diminui para 3,50%, menos 25 pontos. Por detrás desta variação das quedas das três taxas de juro diretoras está a revisão do quadro operacional, anunciada a 13 de março de 2024, que aplica um ajustamento dos juros vigentes à taxa de juro aplicável à facilidade permanente de depósito, que é "a taxa através da qual o Conselho do BCE define a orientação da política monetária". Esta era, de resto, uma decisão já esperada pelos analistas de mercado e até pelo governador do Banco de Portugal, que apelidou a descida dos juros em setembro como uma decisão "fácil". No entanto, Mário Centeno considera que a reunião de outubro será "engraçada", por ser mais incerta e sempre dependente dos dados económicos que serão conhecidos até lá. “Como previsto, o BCE reduziu a taxa de juro, uma medida já refletida nas taxas Euribor. No entanto, o caminho para a estabilização ainda não está completo, e os dados sobre inflação, crescimento económico e emprego nos próximos meses serão decisivos para determinar se esta tendência de cortes vai continuar ou se o BCE adotará uma atitude mais prudente no ajuste das taxas”, comenta Miguel Cabrita, responsável pelo idealista/créditohabitação em Portugal. Taxa de refinanciamento do BCE: como está a evoluir? Jan ’23Jan ’240,00,51,01,52,02,53,03,54,04,55,0% Taxa de juro diretora 3,65% Fonte: BCECriado com Datawrapper Como vão evoluir os juros do BCE até ao final do ano? O corte dos juros do BCE para setembro já era dado como praticamente certo pelos analistas, embora tenha havido surpresa quando à dimensão da descida das taxas de refinanciamento. Já as perspetivas para as próximas reuniões são mais incertas, estando dependentes da evolução da inflação – se estabiliza ou não junto à meta do BCE de 2% -, do crescimento económico, do mercado de trabalho e ainda de fatores geopolíticos e climáticos. "O crescimento salarial ainda alto e as expectativas de preço de venda muito altas" vão tornar as decisões de corte de taxa posteriores à reunião de setembro "inicialmente mais complicadas e controversas do que as atualmente esperadas pelos mercados financeiros", referem os analistas do banco holandês ING citados pela Lusa. "É provável que o BCE se mantenha cauteloso, fazendo depender decisões futuras de novos dados económicos, isto apesar de as novas previsões macroeconómicas publicadas nesta reunião deverem fornecer já um quadro para a discussão das próximas decisões de política monetária", destaca o BPI Research numa nota de análise. Em concreto, os especialistas do BCE projetam que a inflação global se situe, em média, em 2,5% em 2024, 2,2% em 2025 e 1,9% em 2026, "em consonância com o avançado nas projeções de junho", destaca o regulador no comunicado. "A inflação deverá voltar a subir na parte final deste ano, parcialmente porque anteriores quedas acentuadas dos preços dos produtos energéticos deixarão de ser incluídas nas taxas homólogas", acrescentam. Já a inflação subjacente foi revista ligeiramente em alta "em virtude de a inflação dos serviços ter sido mais elevada do que o esperado", indicam. Ainda assim, os especialistas continuam a esperar uma descida rápida da inflação subjacente de 2,9% em 2024 para 2,3% em 2025 e 2,0% em 2026. Por outro lado, o crescimento económico na zona euro foi revisto em baixa, ainda que ligeiramente para 0,8% em 2024, 1,3% em 2025 e 1,5% em 2026, devido, sobretudo, a um contributo "mais fraco da procura interna" nos próximos trimestres. "As condições de financiamento permanecem restritivas e a atividade económica ainda é moderada, refletindo a fraqueza do consumo privado e do investimento", explicam ainda na mesma publicação. Getty images Sobre as decisões futuras, o Conselho do BCE voltou a dizer que continua determinado em assegurar o retorno da inflação ao seu objetivo de médio prazo de 2%. "Para o efeito, manterá as taxas de juro diretoras suficientemente restritivas enquanto for necessário", sublinham, deixando claro que as decisões serão tomadas reunião a reunião e vão continuar dependentes dos dados. "O Conselho do BCE não se compromete previamente com uma trajetória de taxas específica", frisam ainda. Na perspetiva dos analistas da Ebury, "o banco central sinalizou aos mercados que é improvável uma nova redução das taxas de juro em outubro". Christine Lagarde salientou, aliás, o curto espaço de tempo que decorre até à reunião de outubro, o que, segundo os mesmos especialistas, "constitui de facto uma confissão de que cortes sucessivos não fazem atualmente parte do cenário base do BCE", que continua muito atento aos riscos de inflação. É neste contexto que os especialistas do mercado admitem que haja só mais um corte dos juros do BCE este ano, na reunião de dezembro, deixando cair por terra a possibilidade de haver reduções em outubro. É o caso dos analistas da Ebury Portugal: “Acreditamos que o BCE vai reduzir as taxas de juro nos próximos meses de forma mais gradual do que os mercados esperavam”, antecipando que o banco central reduza as taxas apenas mais uma vez em dezembro, mantendo assim os cortes trimestrais. Também os analistas do ING admitem que o BCE deverá avançar com um corte de 25 pontos base em dezembro e anteveem reduções na ordem dos 100 pontos no conjunto do primeiro semestre de 2025. Na mesma linha, os economistas internacionais consultados pela Bloomberg preveem um novo corte dos juros do BCE para dezembro de 25 pontos base. E vão mais longe: admitem mesmo que o regulador europeu possa anunciar até cinco novos cortes nas taxas de juro até ao final de 2025. Cada movimento descendente seria de 25 pontos base e, caso as cinco novas reduções estimadas ocorressem, a taxa de juro de refinanciamento na zona euro situar-se-ia em 2,75% no final de 2025, enquanto nos depósitos a taxa cairia para 2,25%. Getty images As próximas reuniões do BCE O Conselho do BCE reúne-se aproximadamente de seis em seis semanas. Este é o calendário das próximas reuniões de política monetária do guardião do euro, nas quais vai anunciar as suas decisões sobre as taxas de juro diretoras: 17 de outubro de 2024 12 de dezembro de 2024 30 de janeiro de 2025 6 de março de 2025 17 de abril de 2025 5 de junho de 2025 24 de julho de 2025 11 de setembro de 2025 30 de outubro de 2025 18 de dezembro de 2025 Fonte: BCE volta a descer juros diretores em 25 pontos base — idealista/news Geral, Imobiliário, Fiscal Partilhar artigo FacebookXPinterestWhatsAppCopiar link Link copiado